28/5/2020




Bolsonaro confirma "granada" e sanciona projeto com salários congelados para todos servidores

Após divulgação do vídeo em que ministro compara congelamento a

O presidente Jair Bolsonaro confirmou a 'granada' no bolso de todos os cerca de 11 milhões de servidores públicos federais, estaduais e municipais do país. Ao sancionar o projeto de lei complementar que socorre estados e municípios de parte das perdas de arrecadação (PLP 39/2020), Bolsonaro vetou o item que reunia todas as exceções de segmentos do funcionalismo público civil e militar que não seriam atingidos pela previsão em lei do congelamento dos salários.

Com isso, a vetação a eventuais recomposições de salários e benefícios até janeiro de 2022 fica valendo para o conjunto do funcionalismo, sem exceções. A agora Lei Complementar 173 proíbe ainda contratações para novos cargos nos serviço públicos nesse período. A suspensão de prazos de concursos já realizados que já estejam em vigor também foi vetada. Os vetos devem ser analisados pelo Congresso Nacional, que pode derrubá-los ou mantê-los.

O presidente vinha defendendo o congelamento durante a pandemia do coronavírus alegando que se trata de uma 'pequena' contribuição dos servidores, no lugar de outros projetos, do governo, inclusive, que preveem a redução imediata dos salários. Na reunião ministerial tornada recentemente pública por decisão judicial, no entanto, soube-se que o ministro Paulo Guedes (Economia) comparou o congelamento salarial a um ataque bélico contra o funcionalismo. "Nós já botamos a granada no bolso do inimigo. Dois anos sem aumento de salário", disse Guedes. Bolsonaro ouviu em silêncio e não contestou o ministro pela comparação que contrariava o que ele próprio vinha argumentando.

Servidores criticam e fazem alerta

Para o servidor Fabiano dos Santos, da direção do Sintrajud e da coordenação da Fenajufe, a federação nacional da categoria, ficou evidente que o governo vê o servidor público como um 'inimigo' a ser combatido. A política de congelamento salarial, observa, não é novidade, mas foi aprofundada pela Emenda Constitucional 95 (teto dos gastos) e consolidada com o PLP 39. "Essa visão do funcionalismo, posta às claras na deplorável reunião ministerial tornada pública, confronta a noção de que esse congelamento não traz nenhum impacto prático: foi comemorado por Guedes como 'a granada no bolso' pois representa, de fato, uma derrota aos trabalhadores", disse.

Na avaliação da servidora Inês Leal de Castro, também da direção do Sintrajud, a aprovação do projeto reforça a evidência de que não há políticas sérias preocupadas com as questões sociais e com a garantia de serviços públicos para a população que minimizem os impactos da pandemia. O que há, disse, é a constante tentativa de excluir direitos, que nesse caso inclui até os profissionais de saúde - algo considerado pela servidora uma "crueldade absurda" com aqueles que estão nas emergências e nos hospitais adoecendo e combatendo a pandemia para salvar vidas.

"Eles apresentam esse congelamento como um mal menor, mas na verdade o que fica claro é que é um primeiro passo para que se possa avançar num projeto que o governo já tinha antes e que deve nos deixar muito atentos. A fala do Paulo Guedes na reunião agora publicizada deixa isso muito claro. Ele considera o servidor público um inimigo a ser combatido com uma 'granada no bolso'. Ele quer de fato nos explodir", alerta.

 

Foto: Marcelo Casall Jr| Agência Brasil

 



Hélcio Duarte Filho