A morte do rapaz de 18 anos é mais uma dentre tantas de homossexuais, travestis e transexuais, que ocorreram no Brasil, no rastro do discurso de ódio proferido por cristãos fundamentalistas contra os LGBT.
Por Ely Veríssimo, servidor do TRE-SP e diretor do Sintrajud
No sábado, 13 de setembro, uma multidão concentrou-se no Largo do Arouche, antigo reduto LGBT de São Paulo, por volta das 17h, e depois seguiu em caminhada até o escritório da presidência, na esquina da Augusta com a Paulista. Com estrutura de som improvisada, com chamado a vários partidos, várias pessoas discursaram sobre a razão do encontro: o assassinato do jovem João Antônio Donati, em Goiânia, que deflagrou protestos em todo o país contra a LGBTfobia.
A morte do rapaz de 18 anos é mais uma dentre tantas de homossexuais, travestis e transexuais, que ocorreram no Brasil, no rastro do discurso de ódio proferido por cristãos fundamentalistas contra os LGBT.
A bem da verdade, a morte de homossexuais não é novidade por aqui. Muito menos que eles sejam mortos por serem homossexuais, o que caracteriza o crime de ódio. A diferença, agora, é que há visibilidade por conta das redes sociais, que tanto denunciam as mortes e a omissão das autoridades que deveriam investigar e coibir, quanto acabam por servir de veículo ao discurso acintoso de fundamentalistas religiosos – de matriz católica ou protestante – chamando, em alguns casos, seus fiéis ao ataque a esta minoria, interferindo nas decisões de governos municipais estaduais e federal, pondo em cheque tanto a democracia quanto a laicidade do Estado.
Nesse cenário, enquanto Dilma titubeia em assumir a defesa das minorias – dentro do estado laico – e Marina recua em obediência a pastores homofóbicos, João torna-se estatística de homicídio apenas, apagando-se a mácula que o Brasil tenta, a todo custo, evitar, de que o país é um dos mais homofóbicos do mundo, como é tambem em desigualdade social, em racismo e em desrespeito à dignidade humana.
João morreu porque era homossexual. Foi morto por ser o que não poderia deixar de ser, porque não podia escolher não ser. Preferiu ser quem era, o que era. João foi morto pelo medo de quem, não podendo ser, quer apagar aquele que é. Eu não conhecia o João, mas ele era meu filho, meu irmão, meu companheiro.
João é, agora, só uma imagem sorrindo diante do espelho. Mas como dói.
João Antonio Donati presente.