Até maio deste ano, ninguém apostaria 20 centavos que o Brasil passaria a viver momentos tão ricos de ensinamentos e esperanças como as Jornadas de Junho. Vale lembrar: as manifestações começaram em São Paulo pela não aplicação de reajuste nas tarifas de ônibus e metrô.
Na capital paulista, a violência policial foi desproporcional, como historicamente tem sido. Profissionais da imprensa agredidos, pessoas presas pelo porte de garrafas de vinagre, homens, mulheres, crianças, idosos apanhando. A Polícia Militar não economizou nas bombas de efeito moral, no uso de gás de pimenta e nas balas de borracha na quinta-feira, 13 de junho.A revolta tomou o país, e o movimento se espalhou. As palavras de ordem ganharam outra conotação. “Queremos saúde, educação, transporte público”, diziam os manifestantes com seus cartazes elaborados e confeccionados nas ruas ocupadas.
A população, como há muito não se via no Brasil, foi às ruas exigir mais e melhores serviços públicos, por consequência, mais servidores públicos. Fato que deixou perplexos os governos federal, estaduais e de vários municípios, além dos grandes meios de comunicação. Hoje, quando observamos a verdadeira batalha campal que os professores do Rio de Janeiro estão encabeçando, questionando o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, ambos do PMDB e aliados de Dilma Rousseff (PT), percebemos que o país não é mais o mesmo. Principalmente quando consideramos a solidariedade enviada de todo Brasil àqueles profissionais da educação.
Em alguns anos, quando os eventos que estamos vivendo e protagonizando forem estudados, os historiadores e cientistas sociais lançarão seus olhares para o ano de 2012, quando os servidores públicos federais encabeçaram a maior greve do funcionalismo desde a Reforma da Previdência, em 2003.Embora o resultado econômico não tenha sido o desejado, aquela greve venceu a política de reajuste zero que vinha sendo imposta pelo governo Dilma Rousseff. Mais: aquela mobilização conjunta era um indício de que os ventos no país começavam a mudar.
Em outubro de 2010, publicamos que nossa heroica resistência era algo para se comemorar em 28 de outubro, Dia do Servidor Público. Passados três anos, podemos dizer que, ao enfrentar anos de ataques ininterruptos de diferentes governos, essa resistência ajudou a criar o abalo sísmico que ora vivenciamos.Tempos tempestuosos e impiedosos nos esperam. Que os ventos de junho nos inspirem a lutarmos unidos à classe trabalhadora, pois se lutar é preciso, é possível vencer. É essa resistência, essa certeza de que nossa luta é justa que nos faz andar de cabeça erguida ao dizer que somos servidores e defendemos o serviço público gratuito de qualidade.