Edmilson, o Edi, foi contratado pelo Sintrajud como office boy por volta de 1998 para substituir Joãozinho. Era daqueles funcionários patrimoniados, antigões, no que pese isso já não tem muita importância nos dias de hoje.Conservava uma cabeleira com um eterno rabo de cavalo, o que lhe rendeu o apelido de Menudo... Menudão, porque era alto.E no dia 03/12/2012, com 43 anos “o Menudão já era!”. Seria esta linguagem que os Boys utilizariam para noticiar o falecimento de um colega.
Edi era assim, uma pessoa prática e simples. Correta, honesta e sem grandes ambições, além daquelas que todos os trabalhadores pobres de São Paulo têm: uma casa (que ainda não tinha), condições de criar os filhos, um dinheirinho para o lazer em família e saúde...o que também não teve...Teve uma morte rápida, hospitalizado por 10 dias com diagnostico de "síndrome de SHU". Uma bactéria agressiva consumiu em poucos dias 90% de seus glóbulos brancos.Deixou esposa e dois filhos. Um de 6 anos e outro de colo, com pouco mais de 1 ano. E deixa boas lembranças e saudades.
Edi não se sobressaia no sindicato, mas era um bom trabalhador. De Office Boy passou a ser auxiliar no operacional. Dentre outras coisas, nos ajudava sempre no som do TRF. Aliás, era um dos poucos que sabia operar aquele trambolho arcaico que havíamos comprado pra lá. Na greve, lá ficava ele e ninguém podia mexer no som. Só ele. Edi é um daqueles caras que, quietinho, nos bastidores nos ajudou a ganhar todos os 3 PCS que recheiam nossos contracheques. Assim era o Edi. A vida não lhe foi muito camarada. Um certo dia ao voltar do trabalho (acho que foi isso) caiu de uma moto e lesionou o tendão. Como não cicatrizou direito, ficou com um problema na perna para o resto da vida. Isso lhe custou muito, não só no trabalho, mas no dia a dia, pois se queixava que muitas coisas não podia fazer com o filho que crescia. Mesmo assim, todo ano, marcava suas férias para outubro ou novembro para ir com a esposa e filho para Trindade “um pedacinho do paraíso na terra". Acampavam
por uma semana ou mais dias.
O enterro de Edi foi simples, mas digno. A esposa era o sofrimento em pessoa. Perdeu quem amava, o pai carinhoso dos filhos, mas sabendo que vai pesar a falta do salário e dos benefícios que nossa entidade pagava. Fica agora na mão do Estado. Os trabalhadores pobres tem a clareza das coisas e fiquei impressionado como enfrentam esses momentos difíceis. Choram, mas olham os problemas de frente. Ali tratava de se encarar a morte. Fazia isso com os filhos no colo encarando o pai no caixão.Ao final, parece que foi ela que me consolou dizendo que Edi pediu, há um tempo atrás, para que jogasse suas cinzas nas águas de Trindade, onde começaram a namorar e onde passavam todo ano seus melhores momentos, com os filhos também cabeludos como o pai.. Por isso foi cremado e era dessa maneira que iria homenageá-lo, jogando suas cinzas nas águas do mar... A cerimônia no Crematório da Vila Alpina foi simples e sofrida, como era o Edi. Foi silenciosa e com poucas ou nenhumas palavras, como era o Edi.
Foi com primos, irmãos e filhos cabeludos e com rabos de cavalo, como era o Edi com camisetas, moletom e tênis, como era o Edi (apesar dele mesmo destoar vestindo social).Foi uma cerimônia que teve tudo: musica palmas, coroa de flores e choros inconsoláveis.
Foi uma linda despedida para meu amigo Edi.
Homenagem do diretor de base e ex-diretor do Sintrajud, Claudio Antônio Klein ao colega Edmilson Ferreira Lima "Edi", que nos deixou no último dia 03/12.