3/5/2012


TRABALHADORES

Sem Bradesco ou governo, 1º de Maio da CSP-Conlutas vê crise social que outras centrais ignoram

Ato da CSP em SP teve tom classista; perto dali, festa da CUT bancada por empresas e governo atraiu multidão que, querendo ver artistas, vaiou ministros e até presidente da central


 Com menos gente, mas sem patrões e sem governos, o ato nacional de 1º de Maio da CSP-Conlutas em São Paulo contrastou com as comemorações promovidas pelas centrais sindicais que mantêm uma relação de parceria com governantes federais, estaduais ou municipais. A manifestação iniciada sob o vão livre do Masp não teve sorteios, shows e quaisquer financiamentos de empresas privadas ou estatais. Teve, por outro lado, e aí se encontra outra diferença, muita crítica ao papel desempenhado pelos grandes empresários e banqueiros no país, ao governo da presidenta Dilma Rousseff e a outros governantes.

A poucos quilômetros dali, uma história bem diferente acontecia no ato da CUT (Central Única dos Trabalhadores), no Vale do Anhangabaú. Tão diferente que, segundo alguns jornais, os discursos de representantes do governo e do próprio presidente da central, Artur Henrique, foram vaiados sem dó por um público, estimado pela Polícia Militar em 60 mil e pelos organizadores em 120 mil pessoas, ávido por ver e ouvir os artistas divulgados na programação. Assim registrou a cena a jornalista Tatiana Farah, do diário carioca “O Globo”: “Os ministros do Trabalho Brizola Neto, e da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto  Carvalho, tiveram de enfrentar vaias ontem em seus discursos no Primeiro de Maio organizado pela CUT, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. A vaia aos políticos era seguida de gritos por Belo! Belo! Belo!, um apelo pela apresentação do cantor de pagode, um dos inúmeros que subiram ontem [dia 1º] aos palcos das manifestações pelo Dia do Trabalho na cidade”. A repórter cita mais vítimas dos fãs do artista mais adiante: “Além dos ministros, o presidente do PT, Rui Falcão, e o próprio Artur Henrique [presidente da CUT) acabaram vaiados pelo público que queria ver os shows”.

Brahma, Bradesco e estatais

O próprio Artur Henrique teria criticado o ato organizado pela Força Sindical – junto com outras quatro centrais (CTB, CGTB, NCST e UGT) – na Praça Campo de Bagatelle, zona norte da capital paulista, por ele contar com sorteio de 15 carros e ser despolitizado. Mas, impossível negar, a política que se viu nas duas manifestações das centrais que têm fama de chapa-branca ficou muito longe da tradição classista do 1º de Maio descrita na internet pelo vice-presidente da CTB, Nivaldo Santana, para divulgar o ato em Bagatelle: “O Dia Internacional do Trabalhador, celebrado na maioria dos países no dia primeiro de maio, é uma das mais importantes datas da luta classista dos trabalhadores. Resgata, entre outras bandeiras, tanto a luta histórica pela redução da jornada de trabalho como a do fim da exploração capitalista e defesa do socialismo”, assinalou, num estranho texto para uma festa patrocinada por bancos e movida a sorteio de 15 carros zero quilômetro.

Representantes do governo estiveram nestes dois atos, financiados com recursos de empresários e estatais. O Bradesco e a Brahma são duas das empresas que teriam injetado mais dinheiro nos dois eventos. Curioso que o Bradesco é um dos bancos mais atacados por entidades sindicais de bancários país afora, inclusive, ao menos no discurso, por alguns ligados à Central Única dos Trabalhadores. Faz alguns meses, o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre (RS), filiado à CUT, divulgou que o banco era campeão de demissões no estado. “Entre os quatro maiores bancos privados com agências no Rio Grande do Sul, o Bradesco é o campeão em demissões sem justa causa”, registrou o site da entidade sobre o aparentemente principal patrocinador das festas dos trabalhadores da CUT, da Força, da CTB, UGT, CGTB e NCST.

A outra patrocinadora comum aos dois atos movidos a grandes shows, a Brahma, não fica atrás. No 1º Congresso da CSP-Conlutas, encerrado na véspera do Dia dos Trabalhadores, o cipeiro Joaquim Aristeu levou ao evento denúncias da perseguição que sofre da cervejaria, onde foi demitido, apesar da estabilidade inerente aos integrantes de uma Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). Motivo? Denunciou publicamente a morte de um operário em serviço. Em entrevista ao jornalista Caê Batista, da Redação do Sintrajud, Joaquim criticou os sindicalistas que não se colocam ao lado das lutas dos trabalhadores e disse que “a CSP-Conlutas cumpre um papel hoje muito importante aos setores combativos da luta de classe”.

Dois Brasis

Enquanto no protesto na av. Paulista servidores públicos que participavam prometiam combater a política do governo de congelar salários e atacar direitos previdenciários e trabalhistas, nas atividades da CUT e da Força o novo ministro do Trabalho, Brizola Neto, o secretário-geral da Casa Civil, Gilberto Carvalho, e o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), eram recebidos como convidados especiais pelas direções das centrais, mesmo que, ao menos no Anhangabaú, não tenham escapado das vaias. Ao final do ato cutista, o presidente da sessão paulista da central, Adi dos Santos Lima, disse que a atividade “foi um sucesso em muitos sentidos, tanto na quantidade de público presente quanto na qualidade dos músicos e demais atrações”. Disse isso e festejou a situação do país: “[O ato serviu para] refletir sobre a plataforma dos trabalhadores e trabalhadoras, que hoje têm muitos motivos para comemorar seu dia, pela redução do desemprego, crescimento do nível de emprego e a economia forte”, enumerou, traçando um cenário cor-de-rosa para o país.

Nada parecido com o que se escutava no ato da CSP-Conlutas, que descrevia outro Brasil. Fortemente marcado pelo internacionalismo, a manifestação reuniu representantes de 20 países e defendeu a autonomia da classe trabalhadora em sua organização sindical, contestou governos que atacam os trabalhadores e não poupou críticas ao que fazem os grandes empresários e banqueiros no país. Com lideranças de mais de duas dezenas de estados, num ato que teve caráter nacional, os manifestantes defenderam a unidade entre trabalhadores da cidade e do campo, dos movimentos sindical e popular. “Este ato é a unidade de um povo, com várias categorias, que estão aqui demonstrando que o Brasil não é um Brasil para todos. O Brasil é um Brasil para meia dúzia de empresários, meia dúzia de banqueiros, meia dúzia de industriais”, disse o seringueiro Osmarino Amâncio, líder rural em Brasiléia, no Acre, ao defender um intenso trabalho de base nas diversas categorias para construir o caminho que leve às mudanças sociais.


Hélcio Duarte Filho
lutafenajufe